domingo, 11 de março de 2012

Parque Escolar: morte já adivinhada de mais um elefante branco

                      (c) Margarida Alegria, Novembro de 2010-clicar na imagem para ler melhor)

Enquanto termino o cartoon prometido (está quase! conto que saia esta noite! Desta vez é a valer!), deixo este aqui antiguinho, mas sempre muito actual. Foi então feito à pressa , em estilo rascunho escolar e um tanto torto, mas ilustrava um texto da Alergia num outro blogue (já encerrado), para comentar a soberba com que o Ensino Público era tratado na altura pela "pujante e iluminada" Parque Escolar, empresa pública agora moribunda e finalmente passada a pente fino por uma auditoria do MEC.(ver AQUI o post publicado então, de 13-11-2010, e ainda ESTE  OUTRO POST com video do "Bioterra" , ou ainda ESTE OUTRO onde a Alergia alertou para as Contas estranhas da Parque Escolar  -Se quiserem comentar, façam-no apenas neste blogue "Alegrias e Alergias", s.f.f.).
Como se vê agora, os gastos foram mesmo sumptuários (mais caras do que no DUBAI; leiam aqui), com disparo das despesas bastante acima do previsto, ao que dizem  mais de 400%!!!!
Isso sim, foi gastar acima "das nossas possibilidades"! que não foi o povo. Foi um molho de políticos,  "gestores" e técnicos irresponsáveis.
Como se vê também -- detesto ter razão antecipada nestas situações!-- esses gastos foram apenas com o construído, faltando ainda restaurar mais de metade das escolas planeadas e ficando assim suspensas essas obras previstas, deixando ao frio e chuva muitas salas de aula neste país.
Mais uma vez, a tradição portuga de "começar a casa pelo telhado".
Mais uma vez, outro "Elefante Branco" no país, a comprovar como, por cada governo que passa e desgoverna Portugal, há sempre uma ou duas obras sumptuárias e por vezes de utilidade duvidosa a arruinar os cofres Estatais. Ora vejamos só as mais recentes e de que me recordo:
- Nos Governos de Cavaco Silva, tivemos os "buracos sem fundo" do Centro Cultural de Belém,--que mais tarde foi bem aproveitado, mas que escusava de ter estragado o panorama de Belém e ser tão gigantesco (mas que na altura nem tinha fim definido em vista!)-- e a barragem do Alqueva (projecto que agora se quer abandonar, na parte que mais interssava para promover a agricultura);
- Nos governos de Guterres, tivemos a Expo 98, que todos recordam ter sido "um bodo aos pobres" dos empreiteiros, pois, com, a pressa em acabar dentro do prazo, cada camião de cimento e subempreitada via, de dia para dia, o seu preço duplicar! A Expo enriqueceu muita gente! Também da Era Guterres e continuando pelos governos seguintes tivemos os estádios novos para o Euro 2004, com o mesmo tipo de gasto de última hora tão do agrado dos construtores (mais uma vez à custa do dinheiro do Estado, que tanto detestam que interfira para não sei quê...). E agora até já tentam leiloar alguns e falam e demolir um ou outro!
Durão Barroso e Santana Lopes não tiveram muito  tempo para grandes estragos, fora os tais estádios, mas S. Lopes como PC de Lisboa já se preparava para despejar obras no parque Mayer, o que até poderia ser interessante, não fosse o projecto de Ghery ter sido pago sem sair do papel. No Porto, poe causa da  capital da Cultura 2001, houve pretexto para outro vazadouro de dinheiro na Casa da Música e para estragarem uma meia dúzia de praças e jardins do Romantismo. A Casa da Música até pode ser um sucesso arquitectónico, mas se tivesse sido construída perto do  belo Parque da Cidade  (rodeada  de relvados) não teria ar de meteorito invasor caído numa praça à séc. XIX. E não teria precisado de tantas complicações para as obras das caves de estacionamento, que deram a maioria das dores de cabeça aos engenheiros portugueses que a tiveram de concretizar . E, finalmente, preservaria o singular edifício do centro de recolha dos eléctricos da STCP (demolido, pois...), que hoje poderia ser um belíssimo e menos acanhado museu do Carro Eléctrico. Por Lisboa, a linha de Metro em zona de água, no terreiro do Paço, foi (e continua a ser) outro escoadouro de dinheiro... além de perigoso;
- Uff! e ainda não terminei...Chegado o consulado de Sócrates, tivemos os sonhos do TGV e de super-aeroporto da Ota a continuar pelas mentes dos desgovernantes, mas felizmente não concretizados. Mas tivemos já uma terceira auto-estrada Porto -Lisboa para moscas verem , túneis e barragens q.b., um Aeroporto de Beja para concorrer com as ditas moscas num espaço aéreo e afluência  à  moda alentejana e, como os dinheiros públicos começavam a escassear, a UE cortava dinheiros dos Fundos e a crise batia à porta, descobriram a nova árvore de patacas provisória, para satisfazer as clientelas de empreiteiros, na reabilitação do parque escolar: construção de gigantescos, incompletos e mal pensados Centros escolares (vide "Caixotes" escolares), uns armazéns de alunos do interior, que agora obrigavam os municípios a gastar mais dinheiro em transportar os ditos, e a restauração  (de boa parte ) das escolas existentes.
Tudo bem. Muitas escolas  precisavam de obras.É verdade. Algumas eram provisórias há décadas! Perante a crítica ao seu restauro sumptuário, houve quem me dissesse: "ah, dantes criticavam porque não havia obras, mas aí estão as obras, que querem mais, também?!"
Pois bem. Uma coisa é precisarem de obras. Outra é ter de deitá-las completamente abaixo, como fizeram à maioria (exceptuando as históricas, das principais cidades). Aliás, muitos dos nossos empreiteiros não conhecem outra forma de restauro: o deitar tudo abaixo. Uma coisa é reforçarem o isolamento térmico, prolongarem alas para aumentar a capacidade, outra é terem de fazer casas de banho onde eram salas e salas onde eram casa de banho, espaços exteriores onde eram interiores e vice-versa. Uma coisa é melhorarem os materiais e o aspecto, outra é colocarem materiais de luxo, com madeiras no exterior, apliques de luz só de embelezamento,corredores sem fim cheios de recantos(isso é  boa arquitectura funcional?!) chão de pedra caríssima mas de difícil manutenção( viram aquela reportagem de um Centro escolar do interior que teve de comprar sapatos especiais para TODA a gente para ninguém riscar o pavimento claríssimo que ficava com riscos negros ao mínimo toque de sola?), colocar janelas diminutas que implicam o acender as luzes constantemente, janelas seladas porque tudo se enche de ar condicionado e de aquecimentos centrais caríssimos! Cortar árvores frondosas e bonitas para plantar outras raquíticas noutros recantos, etc. etc.
E uma coisa é as escolas precisarem de obras, outra é começarem os restauros por escolas que não precisavam tanto , mas  que ficavam em zonas nobres, para encher o olho eleitoral, sujeitando-se aos cordelinhos de interesse de prioridades estranhas dos governos centrais e locais... E agora muitas de que precisavam mais ficaram  sem direito a obras. As que estão com obras a decorrer viram projectos alterados. Alterados, não pela escolha de materiais e acabamentos mais económicos e sensatos, para não ofender os senhores arquitectos e fornecedores, mas pelo que deveria continuar no projecto: mais salas de aula e laboratórios riscados dos planos, auditórios de tamanho decente a terem que ficar mais exíguos, bibliotecas convidativas e maiores a ficarem reduzidas a metade do espaço...
Mais uma vez, os justos a pagarem pelos pecadores.
Concordo que os alunos possam ter escolas bonitas, confortáveis, espaçosas, mas daí a transformar os seus átrios em Centros Culturais de Belém, em desaproveitar o que elas tinham de bom  e de bem pensado e  torná-las muitos mais dispendiosas em manutenção, é um perfeito disparate! Uma infantilidade de novo-rico! Um país pode construir coisas belas e eficientes sem cair em luxos, o que estou a dizer não é apelar ao miserabilismo. E depois, muitas dessas escolas, afinal, tiveram chuva a entrar e tectos falsos a desabar, pouco depois das ditas obras!
Na minha modesta opinião uma Escola devia cumprir os seguintes ideais : ser FUNCIONAL e segura,  ter bastantes salas de aula, espaçosas arejadas e luminosas, para as turmas, ter espaços comuns convidativos para o lazer, tempos livres, actividade extra-curriculares; um bom ginásio, com balneários decentes e práticos, uma boa biblioteca, que deveria ser o coração da Escola, gabinetes sossegados para os professores poderem ter ao menos uma gaveta ou cacifo e recanto decente para reuniões, para corrigir trabalhos em silêncio, tutoriar alunos,etc, já que são tantas as horas não lectivas que agora obrigam os docentes a estarem enfiados nos estabelecimentos, um gabinete de enfermagem (com enfermeiro, já que médico, nem em sonhos...), uma cantina ampla, com cozinheiras próprias a servir comida  nutritivamente equilibrada e saborosa(e não a dar negócio a umas empresas com comida pouco convidativa e até menos saudável que dantes!), jardins e parque de jogos, para que as crianças possam correr e brincar nos tempos livres...
A Escola-edifício em si deveria ter uma capacidade máxima de 500 alunos, em um turno, de preferência, para que todos ganhem estima pelo espaço escolar e pela aprendizagem em tranquilidade. Deveria ter simplesmente janelas amplas e bem isoladas, adaptadas ao clima de cada região, com a orientação solar muito bem pensada, de forma a poupar no aquecimento nas estações mais quentes, mas com resguardo q.b. no Inverno. poucas escadas ,chão  , paredes  e estores de material resistente e fácil de limpar,  quadros dos tradicionais, com apenas algumas salas de quadro interactivos e multimédia (não é preciso multiplicá-los, para depois não haver quem lhe possa fazer a manutenção, serem só pontualmente usados e se estragarem com facilidade.O auditório, a  biblioteca e suas secções providenciariam as necessidades e até os gastos e estragos seriam bem controlados). E espaços para teatro, música, ateliers de Arte, mesmo em escolas não artísticas, para poder desenvolver outras competências , as criativas, nas crianças e jovens  nas muitas horas que têm de "acampar na escola". E aumento da auto-suficiência energética, quem sabe (isso sim um bom gasto que compensaria) com painéis fotovoltaicos nos telhados, que ajudassem a poupar as contas de energia (as escolas restauradas têm também estores eléctricos e algumas elevadores, para além dos famosos ares condicionados! As contas triplicaram, agora é desligada a climatização e os alunos abafam com janelas que não se podem abrir!).
  Passámos do 8 para o 80... Dantes era a conta-gotas que uma escola conseguia ser renovada, sendo muitas vezes os projectos policopiados de escolas estrangeiras (como muitas delas que decalcaram escolas nórdicas, ficando depois com umas saletas muito estranhas e compridas, que não serviam para nada e que mais tarde se descobria serem salas projectadas para guardar... esquis (verdade!). Agora quiseram mudar tudo, dar traço artístico e nacional às escolas, e tudo bem...mas vêmo-las a ser construídas como mansões de luxo, todas cinzentas e castanhas como é de moda. Mas depois com altos preços de luxo de arquitecto também!
Como Cereja no topo do bolo, o Consulado perdulário e ultra-materialista de Maria de Lurdes Rodrigues e Sócrates,-- que consideravam que educar o povo era enchê-lo de computadores e gadgets, mesmo que sem conteúdo e deprezando o Conhecimento (o ódio à aprendizagem e aos professores que dela eram símbolo foi evidente ao longo de seis penosos anos!)-- criaram para amiguitos a Parque Escolar, de forma a gerir todos esses dinheiros públicos e depois vir a cobrar rendas avultadas às escolas (o que caricaturo na b.-d . acima), deram-lhes um grande poderio e consolavam-se a inaugurar apressadamente muitos caixotes novos, em épocas eleitorais. E aos Domingos, pois escolas vazias  de alunos evitavam  o embaraço de "gemadas" capilares na ministra sinistra e vaias monumentais ao  vaidoso Sócas. A conta, como costume, ficaria para o Futuro pagar.
Porém o futuro chegou (mais cedo do que contavam). O dinheiro encolheu. A auditoria foi feita. A administração da PE (empresa pública!) demitiu-se(LEIAM AQUI) . Não terá direito a indemnização, pelo que consta (VER AQUI). Acho bem. Parece que a "Parque Escolar" será extinta (LEIAM AQUI)... a ver vamos... as mordomias são tentadoras. a clientela é de todo o "centrão"... mas que antes se apure tudo o que falhou e quem "prevaricou". As obras quase pararam, mesmo em escolas em obras, pois os empreiteiros não estão a ser pagos(Ora cliquem e LEIAM também...). O caos instalou-se de vez. Aguardamos para ver se se apurarão responsabilidades maiores , se alguém será julgado, se alguém indemnizará a desbunda ao dinheiro Estado  (Leiam AQUI  a  linda gestão...)
E parece que as escolas restauradas terão de albergar mais alunos que o previsto, talvez das escolas vizinhas que não viram obras: por isso lá passaremos a ter ainda mais Mega-agrupamentos Escolares, sobrelotados, com salas onde os alunos se comprimem e onde faltam carteiras para todos, com todos os problemas de desumanização, de alienação e de indisciplina subsequentes... Nem nisso resultaram as obras em melhoria, pois agora querem poupar para pagar à eterna senhora Troika e até as nossas crianças têm de empobrecer...mais.
Entretanto, centenas de escolas esperam, com os seus espaços arrasados pela tirania pomposa das  escavadoras ou com espaços por reabilitar, milhares de crianças portuguesas esperam, dentro de contentores "provisórios" ou dentro de salas húmidas que terão de durar mais outra vintena de anos. Esperam por obras, até mais ver...
 E Portugal espera. Portugal é que foi o lesado, mais uma vez.
Nada a que Portugal não esteja já muito habituado... :((
(pronto... alonguei-me mais do que queria. Mas este tema deixa-me irritada como mais outro caso da tal falta "de visão estratégica" para o país, como se diz aí... Aguardem mais um pouquito pelo cartoon que está "no prelo"! E sem "custos excedentários"!Garanto que vale a pena, modéstia à parte ,eheheheh... Acabei por protelá-lo pois tive uns problemitas técnicos e também aproveitei mais o sol e o descanso, este fim-de semana, que convidava a passear ao ar livre. Ah o sol, pelo qual ainda não somos taxados...Até já !).
Margarida Alegria (11-3-2012, in blog "Alegrias e Alergias")

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