quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ainda o "cochicho": segredinhos pela UE...


Muito se comentou, País fora, a conversa dos dois ministros das Finanças, de Portugal e da Alemanha, há uns dias, lá pela sede da UE. Se bem se lembram, foi um diálogo, ou antes, um monólogo do alemão com uns "sim senhor" de abanar de cabeça do nosso Vítor Gaspar, captado por um microfone direccional e indiscreto da TVI.

Uma conversa de cerca de dois minutos, que na essência se resume assim: o decano Wolfgang Schaubble explicava em tom paternal ao nosso jovem ministro que Portugal poderia manter algumas esperanças de renegociação da dívida. Para já, era esperar. Para já havia aquele problema da marota Grécia e havia que agradar à opinião pública alemã, mas mais para diante, quem sabe!, depois de a poeira assentar um pouco, Portugal , que se estava a "portar bem" e a cumprir direitinho as directivas da Troika, poderia vir a ver alguma condescendência para o seu caso. Não já, mas lá se acabaria por ver "em que paravam as modas". (as aspas e o tom irónico são meus, mas as ideias foram estas).

As reacções públicas à conversa foram essencialmente duas:

--uns acharam humilhante a atitude e pose subserviente de V. Gaspar, todo dobrado a escutar o segredinho e a dizer, grato, "sim, sim..." e que tal mostrava mais uma vez que a Alemanha é que tem decidido tudo na UE e que afinal o governo cá arma-se em forte e durão e diz que não pede renegociação da dívida, quando depois anda no exterior a pedir aos senhores UE que considerem uma renegociaçãozita;

-- A segunda reacção foi de indignação em sentido diverso: era inadmissível que os OCSocial usassem aqueles truques para captar conversas "particulares" e o que parecia atitude subserviente de Gaspar apenas se devia à ciscunstância concreta de o seu homólogo alemão viver preso a uma cadeira de rodas. Que Gaspar se limitara a ser bem educado e que, já que o outro queria ser simpático e dizer-lhe aquela sua mera opinião, o português mais não podia fazer do que concordar polidamente e escutar caladinho. Que era normal tais conversas privadas existirem nos corredores do poder e que mais não eram do que hipóteses privadas e não vinculativas.

Pois bem, julgo que há um pouco de verdade complementar em ambas as teorias(embora Gaspar , habitualmente tão compostinho, se pudesse ter sentado ao lado de Shaubble, em vez de se dobrar daquela maneira e gerar ambiguidade, ainda por cima porque obrigava também o frágil ancião a esticar mais o pescoço do que se estivesse sentado ao seu nível!): a subserviência dos governantes portugueses face à troika, à UE e à Alemanha merkeliana em particular, é tão evidente que salta à vista de qualquer português ou europeu mais distraído; por outro ,já se sabe que uma conversa privada não é um decreto. Porém, a política ridícula que hoje se pratica cada vez mais é feita nesses corredores e menos nos lugares próprios (ex. parlamentos). Sabemos que pesam mais os lobbies de negócios do que os pobres votantes e que cada vez mais a Economia,corrijo, A FINANÇA pura e dura pesa mais do que o bem estar, a democracia e a economia real dos povos. Cada vez mais o poder está nas mãos daqueles que não foram eleitos e cada vez menos nas daqueles que foram eleitos.

Mas atrevo-me uma vez mais a juntar uma terceira teoria, mais uma daquelas minhas teorias amalucadas e para isso peço o favor de olharem uma vez mais para a foto que ilustra este post. Duas meninas aos segredinhos, no que chamamos um belo cochicho, aqui não captado por microfones ... pois o blogue não tem som, ah ah... :)

As meninas leitoras, especialmente, irão compreender a minha "teoria". Quem já passou pelas fases ditas estúpidas da pré-adolescência deve lembrar-se bem. Lá para o fim do ensino primário, por aqueles 9 ou 10 anos de idade das meninas, quer de colégios quer do ensino público, há sempre a chamada fase dos "clubes", "dos segredinhos" ou "de fazer caixinha". Explicando aos mais desprendidos rapazes: dentro do grupo grande de raparigas, numa turma da escola, por exemplo, duas ou três mini-líderes normalmente as tidas como mázinhas, mas não só, muitas vezes entre as simpáticas também, formam um sub-grupo de "cochicheiras". Por exemplo,se o gupo todo está a fazer uma roda ou a brincar às caçadinhas, o grupinho "da caixinha" retira-se para um canto para segredar umas coisas, como num elevar-se acima do resto das comuns mortais. Normalmente é para criticar as/os outros, para marcar a exclusividade em certos conhecimentos sociais. Outras vezes o asssunto é desconhecido e por vezes nem existe, limitando-se a demarcar uma atitude que proclama ao mundo "nós estamos numa outra camada e só eleitas partilham as nossas opiniões e segredos".

Outro exemplo: numa festa de aniversário, as "cochicheiras" fecham-se num dos quartos, estragando por completo o ritmo de brincadeira da festa e só reaparecendo para o apagar das velas do bolo. Na escola também são as eternas desmancha prazeres: no melhor de uma brincadeira colectiva, desistem, proclamam que não lhes apetece brincar mais e lá vão para o canto segredar.

[Por mim, já fiz esporadicamente parte de um sub-grupo de cochicho, confesso, embora quase sempre tal me incomodasse, pois sempre fui adepta de conversas abertas , que não excluíssem ninguém. Embora reservada, eu era sociável, e ficava revoltada com quem fazia troça dos mais fracos, daquele colega que gaguejava, da outra que tinha epilepsia e era disléxica e desatava a chorar nos testes. E sempre que podia, o que por vezes era difícil ( e não agi como devia), ganhava coragem e lá tentava limpar as arestas e fazer o possível para que todos pudessem entrar nas brincadeiras e conversas. Não havia maneira de entender essas atitudes arrogantes, talvez por ter muitos irmãos e primos e uma família onde a conversar é que se procurava o entendimento. Os meus pais sempre nos incutiam a escutar e tratar os outros bem sem olhar a aspecto e condição e uma infância com muitas mudanças sempre nos havia obrigado à adaptação às diferenças. O preço a pagar era termos alguns dos mais tristonhos a seguir-nos, mas não nos arrependiamos e a nossa casa, em horas longas das tardes sem escola, conseguia ser um mundo de convívio eclético, imaginação e e brincadeira que acolhia muitos amigos de estilo diferente, desde as amigas vizinhas mais alegres e sociáveis, aos/às colegas com dificuldade em fazer amigos.]

O meu ponto é: nesse mundo de caixinha das meninas dos segredinhos, um facto destacava-se sempre(e vejam a foto): quem sussurrava olhava ostensivamente em redor para confirmar que a viam a segredar. Era a expressão de "Olhem! Eu tenho esta amiga exclusiva e vou-lhe contar uma coisa que não quero contar-vos a vocês!Nhanhanhãããã!". As outras (como na foto) arregalavam os olhos também teatralmente, como se fosse o segredo mais fabuloso do Universo e arredores! Outras vezes havia o requinte de semi-segredo, deixando audíveis algumas palavras, para incutir a inveja e curiosidade. Algumas infelizes caíam na armadilha e perguntavam: "Hen? Que estão vocês a dizer aí?" Ao que respondiam, depois de ostensivo deitar a língua de fora (outro gesto que nunca entendi bem... o meu pai proibia terminantemente vêr-nos em tal careta!): "Não é nada contigo! É só cá entre nós!" E todo o sub-grupinho repetia a língua de fora. (uma vez uma amiga replicou, descontraída, a uma dessas empertigadas. "Xi! Tens a língua suja!" Nunca mais a dita deitou a língua de fora!)

Enfim, coisa de meninas, como disse, na pré-puberdade, fase felizmente curta, para ser seguida de outras ... tanto ou mais parvas... mas que parece NADA correlacionada com o s nossos esforçados ministros-troikas. Pois enganam-se! A minha teoria é que, tal como as meninas do cochicho, muitas destas conversas são ostensivas para que os OCS as captem e sejam eventualmente escutadas e divulgadas!

Senão, observem mais um pouco: esses microfones direccionais são sobejamente conhecidos pelos políticos, que quando querem bem os evitam. Basta reparar naqueles deputados no Parlamento a fazer telefonemas: encobrem todos o bocal e também a BOCA, com a outra mão, para evitarem o "read my lips" dos jornalistas e também as captações marotas das novas tecnologias!

Quando querem, os políticos evitam serem escutados! Julgam que o "Porreiro, pá!" de Sócrates a Durão Barroso, após a assinatura suicida do Tratado de Lisboa, foi totalmente espontâneo e inocente? Olha com quem! Com senhor do teleponto e do "Luís, como é que eu fico melhor?", com o líder que proibia fotógrafos que não os seus próprios junto aos palcos nos congressos? Aquele homem era o que menos espontâneo e mais teatral jamais tivemos a dirigir o país!

Talvez a conversa dos dois ministros das Finanças tenha sido mais inadevertida,mas de qualquer forma foi um favor que o alemão fez ao nosso gaspartroika, ou não foi? Reparem nas reacções! Quem queria renegociação da dívida clamou: "Eu bem dizia que era possível!"; por outro lado, quem alinhava totalmente com o governo mas estava a ficar apreensivo acabou a suspirar um pouco, mais aliviado ("ah, afinal os nossos ministros não estão a ser assim tão casmurros e até procuram outras soluções, nos bastidores! E vejam como o alemão revelou simpatia! ah! nós não somos gregos!").

Mesmo que tenha causado algum embaraço e sururu e até se tenha pedido de forma ridícula o castigo do jornalista da TVI (para disfarçar e fingir indignação, ao que me parece), a divulgação da conversa "privada" acabou por dar muito jeito e dar mais um fôlego aos eurocratas, em mais uma estratégia para conseguir aquilo que tem sido sua maior preocupação:protelar, protelar e protelar os problemas graves que estão a afundar a União (?!) Europeia em particular e o sistema democrático em geral.

Foi apenas mais uma cena no teatro constante em que nos têm vindo a entreter, alegre e criminosamente, de forma atabalhoada e irresponsável. Tanto os mais poderosos, como os nossos "líderes" de trazer por casa. Mas foi o tipo de política que aprenderam a fazer nas incubadoras dos seus partidos, num mundo onde cada vez são mais irrelevantes como poder efectivo. Um mundo de aparências, de teatro de fantoches que protagonizam. Um mundo onde se decide ou FINGE decidir coisas importantes, com a displicência escandalosa de quem faz uma reunião de rotina de aprovação de estatutos duma associação recreativa de matraquilhos, de quem reúne a assembleia para aprovação do orçamento e contas de Condóminos,ou até de quem dirige uma reunião de apresentação da nova colecção de Tupperware. Porém em todas a mesma atitude de quem esquece que está a lidar com o sério destino de povos inteiros, mas empurrando os europeus para a bancarrota ,com mais umas austeridades e declarações ocas, por entre o trincar de mais um rissolzinho e o estrear de nova gravata de seda cor-de-esperança.

Deixando "escapar" para os jornalistas sedentos uma ou outra frase bombástica, sussurrada ou não, para entreter as massas, enquanto deixam fugir as outras "massas" para o buraco especulativo... sempre e sempre num teatro gigante!

Basta ver, por cá , as eternas Conferências de imprensa a anunciar mais uma "tranche" de pescada dos mares da Troika, que veio cá gabar-nos a sorte com o nosso sol e,medir se estavamos a ser bons alunos suicidas e afagar o ego dergovernativo dos nossos "Young Turks".Basta ver, por "lá", as patéticas cimeiras semanais ou domingueiras, sempre inconclusivas mas bem jantadas. Basta ver o marcar de presença (picar do ponto!)em Bruxelas ou em Berlim, nos parlamentos ou em tête-à-tête merkozianos,com a "Anguelita" a competir com a rainha de Inglaterra em beija-mão e a receber mais abraços e beijocas de moçoilos jeitosos do que terá tido em toda a sua anterior vida, basta ver toda esses "poderosos" a fingir, sempre a fingir que decidem alguma coisa, mas sempre a adiar o desfecho.

Um desfecho que insistem em simular ser alegre e de farsa, de comédia com ou sem bolas de cristal, mas que todo o público já percebeu que será de tragédia grega,mas sem direito à justa catarse --ou então com uma catarse que poderá ser parecida com a de duas grandes tragédias Mundiais a que a Europa já assistiu! Agora sentimos que é "reprise"!-- caso o público não patear e não obrigar os pindéricos dramaturgos a alterarem o texto...

E por mais que estes "clubes do Bolinha" e da "Anguelita" finjam segredinhos e nos vão deitando a língua de fora, o povo sem voz sabe por demais que os segredos são de "cacaracá" e apenas revelam parvoíce imatura e já vamos respondendo, sem qualquer respeito "Xii! Vocês, «líderes», têm a língua e a política sujas!"...

(talvez volte para analisar a curiosa teatrada das famosas cimeiras, num outro texto, que este já vai longo...)

"Alergia" (29-2-2012. im blog "Alegrias e Alergias")

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Personalidade Borderline: ("carpe") a melhor terapia...


(Borderline Personality Disorder & Dialectical Behaviour Therapy- 2011)
Para quem tenha a infelicidade de sofrer  ou de  conhecer quem sofra dessa patologia/perturbação de personalidade (personalidade "Borderline" ou "Estado-limite") um autêntico cocktail "explosivo" de  (bastante) narcisismo, educação mimada e   desajustada, cólera/irascibilidade (ai, "mau feitio"!), paranóia,  misto de medo  com gosto de abandono  e  muitas características  de  um ser anti-social  e ,até,.. de psicopata ...
Eis um video explicativo do problema e sobretudo do mais  recente e  bem sucedido tipo  de terapia: Terapia Comportamental  Dialéctica.  Ou de  como é pausando, pensando e falando ,interagindo com outros(segundo uma metodologia precisa),  que se aprende e melhora. Aprender a dominar a  sua impulsividade e  a ver o mundo e os outros de outra maneira mais verdadeira: nem  como ídolos perfeitos , nem como inimigos perseguidores. Mas sempre  com  força de vontade  e  coragem de reconhecer o problema, querer mudar (passo muito  difícil mas não impossível para narcisistas) e de pedir ajuda  a quem pode  e sabe  como ajudar.
(E com a coragem de "despejar pelo ralo" o que --"O QUE"... não "QUEM"-- só está a piorar o problema ....)
Divulgar videos como este é o que  ainda posso fazer para tentar  apoiar quem tanto  quer  "agarrar o dia"  mas que só faz  da  sua "Vida" um teia onde  se  enreda  e fecha cada vez mais...
( O video é estrangeiro. Mas em Portugal  já deve existir  esta terapia).
Votos sinceros de boa sorte  e  coragem! :)
Para que depois haja um verdadeiro... "Carpe diem".
E não...não estou a brincar. Força!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Post domingueiro :"The Secret Powers of Time"


("The secret Powers of Time"- conferência ilustrada RSA Animate- Maio 2010)
Um post pachorrento de Domingo, mais uma  (muito interessante !)conferência animada por "RSA Animate" (cognitive media.uk). Desta vez é de Philip Zimbardo, sobre as diversas noções de Tempo e da sua importância. De como deveriamos valorizar mais o tempo  "gasto" numas coisas (tempo para convívio familiar, por exemplo e para escutar os outros) do que noutras. Aprender a relativizar o Tempo.
  Tempo e o Trabalho,  a Educação, as diferentes Culturas...
Numa época em que  (infantil e/ou cinicamente) nos querem à força criar problemas de consciência pelos tempos livres que ainda temos,como se os "roubassemos"  ao trabalho  e o pagamento à Troika, sabe bem escutar quem põe este tema em perspectiva mais sensata e afinada.
 A não perder. Tempo do video? Pouco mais de dez minutos de um Domingo ou de outro dia.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

José Afonso: há 25 anos e um dia...


("Redondo Vocábulo", José Afonso. Animação 3D por "legohist", no Youtube, 2007)
Não queria deixar passar esta importante efeméride. Foi já há 25 anos (e um dia...) que faleceu  José Afonso /Zeca Afonso, o génio incontestável da música portuguesa contemporânea.
Questões de saúde impediram-me de marcar a data ontem,  mas deixo agora este belo video  com uma interpretação possível do tema. Segundo o seu autor (do video), reflecte "a angústia de uma gestação ou maternidade em tempos de guerra, no ultramar."
Foi sempre um dos mais belos e enigmáticos poemas  de Z. A. ,escritos  na prisão, numa sua fase mais surrealista. E a música e  os aparentemente simples arranjos da  canção ajudam a recortar a sua magia e a sua melancolia.
Talvez o poeta-cantor reflectisse nele a longa espera que viveu*, aguardando o fim do cárcere. No"filme" na minha cabeça**, imaginava antes tudo em tons de azul, as paredes de cal a cair, a "Laura" do tema  como  uma rapariguita sentada numa cadeira, de costas direitas,  paralisada pelo medo e pelas convenções que não entendia. No fundo talvez a Laura de "ar educado" fosse para o Zeca o Portugal triste de então... e o  Portugal de agora.
O que marca os génios: serem sempre actuais...
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( * e ** Nota--na esperança de que a inteligência  e a  sensibilidade brote de algumas mentes embotadas: e sim, também o Zeca, como toda a gente que cria, no fundo também falava de si próprio nas suas criações.  Impossível não o fazer. Só quem não cria e quem fala e pensa no "eu eu eu eu" a toda a hora na sua vida egocêntrica é que pode criticar quem espelha um pouco de si no que faz. Só quem não faz nada de seu é que pode depois fingir falsa modéstia. Só quem não tem "eu" para espelhar é que nem cria , nem deixa  os outros criar, nem entende esses "reflexos" dos outros. Só quem tem um "eu" vazio tem raiva às "canções" de vida que brotam dos demais e pensa que tal é  apenas o "eu eu eu" deles a falar.  Só quem vive a  sugar as emoções dos outros e a usar os outros como espelho da imagem que gostaria de  ter é que não entende os "eus" dos outros... Somos feitos daquilo que vivemos e sentimos, com os outros- mais próximos ou distantes-- e através dos outros também...Mas há seres para quem a preocupação,  o respeito e o carinho só têm um e único sentido, o que aponta para si próprio... Triste, triste... muito triste...)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Aniversário

                                                           foto (c) Margarida Alegria, 2011
"INSCRIÇÃO
Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar."
Sophia de Mello Breyner Andresen

Faz hoje  (dia 21) um ano que faleceu a "Hurtiga", nossa amiga Maria José Sousa. Quis a ironia do destino que, um ano depois daquele dia tão triste, se celebrasse o dia de Carnaval. Por questões essencialmente familiares,  hoje acabei por festejar o Carnaval, o que nem sempre faço. Mas nem por isso esqueci esta efeméride.
A Maria José/Hurtiga, professora estimada e de "primeira água" , blogger  de "estaleca" e verve precisa, mãe , esposa e filha dedicadíssima, teria decerto gostado de festejar este Carnaval, num ano em que ele foi oficialmente "proibido". De pronto descobriria a frase e a imagem certas para , no seu blog "Vade Retro", ou noutros em que participou,  qualificar mais este desvario dos "senhores" importantes de uma capital distante de um povo massacrado, neste país demasiado pequeno para pessoas de coração e gabarito  como os dela.
Não foi o coração que a traíu. Há sete anos que lutava, até sem muita gente em seu redor dar por isso, contra um maldito cancro, um linfoma "não-Hodgkin" que brincava às escondidas com a sua esperança  constante em encontrar cura. Quatro meses antes de nos dizer adeus, surgira finalmente um dador compatível de medula óssea, mas passava então uma fase mais debilitada que impediu o transplante imediato e atempado.
Até à  última, preocupou-se sempre com quem ficaria cá sem a sua presença, em  poder deixar alguns assuntos tratados, para não sobrecarregar ninguém.
Ainda guardo a sua última ( e longa!) mensagem  sms que terminava ..."Depois falamos!", numa atitude positiva perante uma evolução que pressentia não augurar nada de bom... E guardo no coração a  última palavra que me disse, no hospital, já com imensa dificuldade em falar e respirar. Foi "Obrigada." Isto depois de querer saber como EU estava! Mais uma vez, pensando primeiro  no atender aos outros...
Seleccionei a foto acima e aquele poema de Sophia, pois sei que o mar foi um lugar ligado aos seus momentos mais felizes e sem dúvida que à Zé faltaram muitos, IMENSOS! , momentos para buscar junto ao mar, junto  ao campo e às flores, junto à sua amada família, junto aos amigos, junto aos seus  acarinhados alunos (com quem se sentia ainda mais viva!). Junto aos livros. Junto à poesia. Junto a quem lhe proporcionasse uma das suas gargalhadas que, como já disse algures, acredito que hoje ecoe num outro mundo menos ingrato como este foi para ela nos últimos anos (de uma vida que tinha ainda tanto para dar). Foi a pensar nessa imagem que faço dela agora, que  ( no dia em que faleceu) fiz o retrato abaixo. Era para colocar uma foto, mas considerei que esta imagem preservaria melhor a sua identidade, neste momento e meio, embora esboçando uma semelhança da sua pessoa.
Conhecera-a há pouco mais de ano e meio, mas foi uma amizade que me marcou muito, primeiro online, depois em pessoa. Alguém com uma alegria e força de viver exemplares,  a energia de quem agarra os problemas de frente, mesmo que eles sejam muitos... e mesmo que também chore muito por dentro... ou até "por fora", quando o desânimo bate à porta. No entanto, era o bom humor que predominava e a capacidade de ver o lado engraçado em cada acontecimento, embora pontuando com "raiva" o que estava errado no Mundo. Tantas vezes que nos rimos até às lágrimas, em conversas para espantar tristezas! E foi com satisfação que vi que também a conseguia animar quando era preciso, especialmente antes ou depois de um remaldito dia de tratamento...  A Zé tinha dom de animar  encorajar os outros e aos seus problemas bem menos complicados que o dela. Mas ainda bem que me foi dada a honra de a conseguir encorajar e animar A ELA e de ter conseguido estar atenta aos momentos em que mais precisava de uma voz amiga. (mas claro que não foi só a minha, apesar de tudo e  felizmente).
Lamento, mas apenas posso falar do meu testemunho, do que consegui viver no privilégio que foi a sua companhia, tanto à distância como em momentos mais vivos e próximos.Não estou a falar de mim, mas sim do que ela me ensinou.Faço-o da forma e do modo que sei e consigo. Se quiserem, usem esta caixa de comentários para uma homenagem simples que mais uma vez lhe estou a tentar fazer.
Outros que falem por si. Mas não me  critiquem ou impeçam a mim de expressar como bem entendo as memórias que quero preservar dos que me são queridos. Este blog é da minha responsabilidade, em princípio ninguém poderá eliminar este meu testemunho. Porém, uma coisa garanto: mesmo que alguém o fizesse, tenho todas estas palavras e momentos gravados no coração e  na memória  e daí ninguém as pode... "extirpar" (já que é palavra em voga!) . Há quem tente, há quem até julgue que conseguiu (noutras ocasiões) mas a Amizade e a memória --de quem as tem e  de quem as tenta preservar com orgulho e carinho --JAMAIS serão apagadas, truncadas, invejadas e vilipendiadas de forma  desvairada e ignóbil! :(
Não te aflijas lá na tua nova casa,  querida amiga"Hurtiga":
ESTE é um espaço de Liberdade e aqui  cabem todos : tu, todos os amigos e quem vem por bem, a palavras que mereces que te diga e  (mais ) um post onde és celebrada por quem te tem gratidão.
Ensinaste-me a ver o fundamental em muita coisa. Foi de facto uma HONRA conhecer alguém especial como tu, embora por vezes pouca gente te valorizasse como devia. Valorizaram-te e acarinharam-te os que queriam mesmo bem, pessoal e profissionalmente, e isso é que foi importante. Ainda bem que exististe, mesmo que  em vida breve. Ainda bem que te conheci, embora não por tanto tempo como a nossa amizade merecia e ainda hoje me revolta como partem pessoas excelentes como tu e ficamos no meio de tantos "fantasmas" (e de novo Sophia) que se arrastam por aí sem rumo e sem o sorriso e a alma aberta à Vida como tu fazias!
  Portanto, há um ano e dois dias disseste-me "Obrigada."...  Mas... não tens de quê, Hurtiga, pois quem te agradece sempre somos nós, pelo que aprendemos  e vivemos contigo.
Todas as palavras do mundo falham, mesmo assim, para exprimir as nossas saudades.
Por isso  não me cansarei de repetir uma e outra vez: "Obrigada eu, querida Zé!".
Margarida Alegria, 21-2-2012 (in Blog "Alegrias e Alergias")

(c)Margarida Alegria, Fevereiro de 2011

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Música "piegas" de Carnaval! :)


("Noite dos Mascarados", Chico Buarque com Elis Regina)
Em Domingo de Carnaval, aproveitando para uma homenagem  atrasada ao 30 anos da morte de Elis.
 E porque há muito que não publicava aqui música.
E com um abraço especial à querida Paulinha.
O Chico é um colírio e um anti-depressivo piegas!Ai tanta pieguice! :))
Bom Carnaval, mais uma vez.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Desafio "piegas" de Carnaval

Atrevo-me hoje a fazer um apelo à desobediência dos portugueses, nesta época em que andam esmagados pelo discurso derrotista da austeridade.
Não é propriamente um incentivar à desobediência civil, face à proibição do nosso PM  que os funcionários públicos possam parar no Carnaval. Lá continuará, Passos Coelho, convicto ,na sua ficção delirante, de que lautos proveitos virão desse dia , tornando Portugal mais produtivo, como se obrigar as pessoas a irem trabalhar sisudas possa alguma vez incentivar qualquer Ecomomia que seja. Eu por mim falo: quanto mais me querem impor alguma coisa injustamente e sem lógica, mais eu tendo a me rebelar e querer contrariar.
Já aqui se comentou, noutro post, essa decisão infeliz de PPC de não permitir a tolerância de ponto, usando a argumentação (?)própria de quem está de luto, num funeral e não de quem governa e quer ser mobilizador. O segundo argumento(?!?!) que usou ainda é mais ridículo, com o facto de virem cá os atarefados senhores da Troika e "parecer mal"... Primeiro, ninguém os mandou virem sempre em épocas de feriados e pontes em Portugal e segundo, porque até desconfio que o genial Antero (feroz paladino do Carnaval) , do "Anterozóide" , tem inteira razão ao revelar que os senhores até escolheram esta data de propósito (ora espreitem o seu cartoon, AQUI). :))
Portugal é um dos pais europeus do  aplaudido Carnaval brasileiro, a par com a Itália (Veneza) e os festejos primaveris  gregos ao deus Dionísio. Depois, houve o feliz "casamento" com  os ritmos as danças  e a mística africanos. O Carnaval, lembremos ao nosso Pedro, tem por origem a palavra "carne" e a época que antecede a AUSTERA Quaresma do jejum e reflexão e em que eram permitidos uns dias de abuso carnal (em várias vertentes, digestiva e não só). Muitas terras do interior até celebram momentos carnavalescos com "enterros e funerais" diversos e simbólicos(Judas, Velhas, etc), a representar o nosso "bode expiatório" já não judeu e lavar as almas, em preparação para um renovar de vida e fim do Inverno.Os corsos carnavalescos são netos desses desfiles "de funeral" de tempos imemoriais. O nosso Pedro tem de saber aliar a dedicação que diz ter  ao país com algum respeito pelas  suas raízes culturais. Mas, como tantos produtos "de estufa" não captam o sabor da Terra, assim  deve faltar também aos nossos ex-jotinhas  tal percepção ontológica...
Quer que vivamos em pobreza crecente e eterno INVERNO/ INFERNO...
E já nem falo, como já expliquei antes, no desastre Económico a nível das localidades e do Turismo, que esta medida traz, ainda para mais  em cima da hora... Muitas autarquias declararam tolerância unilateralmente e fizeram muito bem!
Posto isto, ressalvo que raramente, desde os tempos idos de criança, celebro o Carnaval. Não me alegra particularmente, muito menos vou assistir aos seus desfiles. Só numa ou outra festa pontual e de forma mínima. Mas respito quem o faz e delicio-me sempre com os cortejos alegres de crianças em autêntico desfile de inocência alegre e disneilandesa pelos jardins e ruas, todos os anos. Nunca me coíbo de meter conversa e de aceitar uma serpentina ou esguicho de bisnaga na cara! Ainda nos últimos dias consegui falar com a Branca de neve, um pequeno presidiário de ar muito composto, um cow-boy de pantufas e duas Minnies. Deve-se incentivar os sorrisos e  a magia na pequenada, do mesmo modo que se incentiva ao estudo quando ele é necessário.
Porém, este ano, precisamente devido à "proibição" governativa, a essa aberração no calendário, tenciono festejar em grande e em mais que um dia o nosso Entrudo. Nos dias de descanso vou atirar umas serpentinas e, garanto, até já comprei uns artefactos (económicos!) para me mascarar! ;))
E QUAL É O MEU DESAFIO A TODOS especialmente aos funcionários públicos, mais uma vez os bodes expiatórios do Carnaval Desgovernativo, Troikista e Ultraliberal? Pois bem: mesmo que sejam obrigados a ir para a repartição, contrariados, ou para reuniões infindas e maçudas convocadas por chefes ou directores mais papistas... digo,  " mais passistas que o Passos", vão mascarados e cumpram os serviços mínimos de Carnaval, com uma ou outra serpentina ou um apito.
 Julgo que não virá mal nenhum ao mundo se um funcionário atender  os utentes ao balcão, com seriedade e eficácia , usando um nariz de palhaço ou uma cabeleira alaranjada ou orelhas de Minnie. Também não há problema lançar uma bisnagada perfumada ao colega do lado, enquanto se carimbam impressos. Nem em se atirar uma mão cheia de confettis a um Director de turma carrancudo, enquanto se discute mais um Plano de Recuperação de um aluno sorna ou se escreve mais uma acta interminável.
Deveria ser essa a nossa resposta "piegas" mas não preguiçosa aos "Young Turks" (já foi explicado aqui, num dos primeiros posts do blog,  porque usamos tanto esta expressão para os qualificar, ver os Tags do blogue) que nos levam ao abismo de boné na mão , subservientes, perante as Mérkeis deste sistema(enquanto estas bebem canecas de litro de cerveja em carnavais de Munique ou festas da cerveja...), sempre confundindo o ter as rédeas do poder nas mãos com o ter sempre razão.
Levemos todos as serpentinas  e outros pequenos adereços carnavalescos para o trabalho. Usemos a oposição festiva , por contraste aos pobres  deputados de "oposição" que fazem "abstenção violenta". Sugiro até a estes que também levem as suas serpentinas e buzinas, para as apitar nas reuniões e hemiciclo, em substituição das palmas e dos "muito bem!" aos discursos!
Estou a falar muito a SÉRIO, ou não fosse Carnaval!
Expliquemos de vez ao Pedrito e muchachos o que significa o provérbio inglês "All work and no play make Jack a dull boy " (só trabalho , sem diversão, fazem do Jack um rapaz chato/"uma seca"). Porque a vida são dois dias... e já devemos todos estar no segundo, mas não gostamos de ver ninguém a adiantar os ponteiros do  nosso relógio! :(
Margarida Alegria
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ANEXO: A propósito de SERPENTINAS, fiquei a saber há pouco mais uma situação lamantável para as pequenas e médias empresas de Portugal. A maior fabricante de serpentinas portuguesa, a "Fábrica de papéis pintados", da Foz do Douro, no Porto, viu este ano a suas vendas quebrar em 50% as suas vendas, não por ausência de foliões, mas pela perda de um dos seus principais clientes, uma grande Superfície/Hipermercado (Belmiro? Amorim?). O trabalho de horas extra e "banco flexível de horas" que praticavam por esta época, viu-se restringido subitamente (LER E OUVIR AQUI a notícia da TSF). Fui ver então o rolo de serpentinas que tinha ali, comprado num desses hipermercados. Com desgosto vi que era de produção espanhola... E não o tinha comprado aos chineses por julgar estar a comprar produto português, ai a minha pressa! (mas até as lojas chinesas agora nos asseveram:" compLe, compLe! Bom tecido! Veja maLca: fablicado em Poltugal!!!"-- reconhecendo a nossa qualidade). Também há poucos meses a fábrica de lacticínios das Marinhas rescindiu contrato com o Continente, pois esta empresa queria quase obrigar a marca a ter de  pagar para fornecer tais hipermercados! pois... "Compre Português"...
Faço portanto um segundo apelo: procurem nas tabacarias e papelarias as serpentinas da fábrica de Papéis Pintados, certifique-se que são dessa marca portuguesa e ajude assim esta nossa pequena indústria tradicional!
E BOM CARNAVAL  A todos!
(mas ainda voltarei com posts carnavalescos...)
 Margarida Alegria (18-2-2012, sábado de Carnaval, in blog "Alegrias e Alergias)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Então abandona assim as suas queridas vaquinhas? :)

MAS QUE É ISTO?! Há poucas horas, o PR, Cavaco Silva, resolveu cancelar à última da hora a visita programada à Escola artística "António Arroio"?!


A notícia é breve e um tanto fugidia até. Logo mais se saberão detalhes.

Ao que parece foi por motivos de segurança, só porque os alunos-artistas da António Arroio, já conhecidos pelas sua qualidades reivindicativas (como Sócrates e MLR--... ou foi Isabel A.?
-- o descobriram, embaraçadamente, há poucos anos!) resolveram organizar uma recepção "à maneira", com protestos, mas sobretudo com aquilo a que chamaram uma "Cow Parade"! :))

Então não é CS que gosta tanto da ruralidade e se comove com o sorriso das vaquinhas que contemplam o rápido crescer do pasto, nos Açores? E não foi ele que também dissertou sobre a forma insinuante com que outras vaquinhas, mais continentais, se encostavam às máquinas da ordenha, muito disciplinadas e "boas alunas"?

E agora não tem curiosidade em conhecer uma Cow Parade completa?

Não era ele que incentivava ao regresso aos campos e ao desenvolvimento escolar e artístico dos jovens, chamando à Educação um basilar "desígnio nacional"(sic)?

Quem sabe se os alunos tinham vaquinhas sorridentes em biscuit , como a da foto acima (do blog bidubiscuit), para que sempre se lembre que os mais de mil alunos da António Arroio continuam sem cantina (e deve ser escola onde os alunos devem viver todo o dia, tendo em conta os cursos de Arte e as horas gastas em ateliers e oficinas...), tendo de trazer as suas marmitas de casa e comer sentados no chão?!

Ah... esse tipo de vaquinhas de protesto e de "vaquinha da sorte/azar" destes alunos não interessa ao Presidente. Está bem longe do mundo belo virtual e sorridente da escola "de excelência" que proclama, não está?

Pois para ver(em) o que perdeu, EIS AQUI a notícia (com fotos e tudo), segundo "A Bola". Os alunos, ao ver que CS se atrasava, até lhe marcaram falta ao primeiro tempo!

Ser obrigado a escutar slogans como "Governo, fascista, é a morte do artista!" também não deve ser muito agradável, pois não? Isso é demasiado real e provoca stress em qualquer um, e bem sabemos como o nosso PR se preocupa em (se) poupar...a fadigas, a protestos, enfim, à dura e imprevisível realidade no seu todo.

E sabemos como os adolescentes e jovens até podem ter os seus defeitos, mas não têm papas na língua , quando nos obrigam a dar conta da sua realidade e sofrimento, chamando sempre o "nome aos bois", digo, às vacas, neste caso.

Se preferirem a versão do "Expresso", com filme da SIC, então é ver AQUI. O "Expresso" diz ainda não poder adiantar os motivos do cancelamento. Mas a notícia está por desenvolver.

Pode ter sido um real imprevisto, sei lá, ter que verificar a data de vencimento das suas promissórias ou vender mais umas acções, promulgar mais umas leis fascizantes deste governo, como a dos despejos e dos arrendamentos(VER AQUI)....

Quem sabe se não perdeu desenhos artísticos de vacas sorridentes e marotas ,como este:


( imagem do blog "rafinha e a 7ª Arte)

E será que a senhora herrina chanceler , no "Olimpo glorioso", ficará contente com o tal cancelamento? Afinal, a vaquinha sorridente até lembra um produto Francês, europeu (nada de negócios com África ou China, isso é exclusivo dos países adultos!) e até há versões em alemão, como esta aqui:




En resumo, o que mais deve ter preocupado o corpo de segurança do PR deve ter sido o recear que as vacas em causa na parada, não fossem daquelas esculturas em papel maché que os artistas mundo fora decoram, mas antes uma manada mais prosaica e menos sorridente, com atitudes como a desta vaca aqui:

UI! Este sorriso já não é o previsível nem protocolar! Ah pois não! :))
(e afinal de que se queixa este exemplar "piegas" da espécie bovina,preguiçoso "acomodado" elemento de gado vacuum, quando parece ter um pasto tão verdejante em seu redor, daquele que cresce 3 cm por hora, ritmo tão célere como as nomeações de "especialistas "no Diário da República, embora não tão veloz como a taxa de desemprego?)
"Alergia" (16-2-2012, in blog "Alegrias e Alergias")








quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Somos todos Gregos mesmo! Queiramos ou não. :(



(Athens burns!- 13-2-2012)

Tem-me faltado ânimo para o Humor. Pelo rumo que o mundo em geral e a Europa em concreto estão a levar, com as novas notícias de traições ao país que é o nosso, com novas desmedidas "para além da troika" que estão aí a ser congeminadas (nomeadamente a mobilidade da FP, ilimitada e não negociada, ao mesmo tempo que os boys continuam a entrar para a bolsa protegida dos que "mamam" no Estado, com novos especialistas-assessores de vinte e poucos anos, com novos institutos públicos e "grupos de trabalho" com funções para-governativas), mesmo as ideias para textos que gozam a situação só surgem com o travo amargo que isto tudo causa.

E tantos que acreditaram nestes desgovernantes novos-- infelizmente fui( mas não me gabo, antes tivesse sido menos céptica,tido esperança,sinal que Portugal ainda tem remédio) dos que estiveram sempre de pé atrás, mas mesmo assim nunca pensei que o grau de fuga ao prometido fosse tão longe!-- e que agora se conformam, se encolhem, já não dizem nada, quando deveriam ser os primeiros a reclamar contra os novos pinóquios!

Mas as imagens vindas da Grécia, berço da Europa e da Democracia, ainda inquietam mais e antecipam o que vão fazer connosco em breve uns senhores que têm dívidas bem maiores, mas que desviam a atenção dos seus cidadãos criando bodes expiatórios em povos inteiros (ironicamente a quem devem milhões de Euros da II Guerra Mundial!). Hoje é a Grécia e já se vê que amanhã será Portugal, cuja fatia de dívida, em todos gráficos que existem, é bem fininha face aos grande "caloteiros" mundiais (pois é assim que nos designam a nós...), com a Alemanha e outros "santinhos" no topo...

A menina "Anguela" e outros dos seus séquito já foram mandando agulhadas a Portugal, com críticas aos túneis da Madeira e aos negócios com Angola, mostrando enorme ignorância sobre a História e a geografia portuguesas. Claro que não eram obrigados a saber, mas o veneno foi lançado e o que lhes interessa são umas espúrias eleiçõezitas locais, a sua própria sobrevivência perante a opinião pública alemã. Espero que os alemães sejam mais inteligentes que isso e compreendam o que está em causa: a suposta sobrevivência da Alemanha e da UE está na própria sobrevivência dos povos mais pobres e marginais e não no seu "sangramento" económico nem no seu trucidar.

Na Idade Média e até depois disso, por roubos e piratarias muito menores, por traições à pátria muito menores, todo este tipo de banditismo era fortemente castigado e empalavam, esquartejavam os bandidos, colocando as suas cabeças em estacas, às portas das cidades, como exemplo. Agora a Europa inteira está a ser roubada e pirateada pelos especuladores dos "queridos e nervosos mercados", sob a protecção de governantes sem visão, mesquinhos e ignorantes, que assim julgam escapar à desgraça, mas que ainda por cima criticam quem se revolta. Não concordo com as pilhagens dos vândalos que, oportunistas, queimam e destroem em Atenas, em Londres, e mundo fora, ao abrigo de manifestações justas e legítimas. Mas não venha um alemão ou outro instalado, como o presidente do Parlamento alemão, europeu ou outro, dizer que aquela revolta não corresponde à maioria do sentimento do povo grego. Acredito que a maioria até gostaria de estar na praça Syntagma, mas , ou por medo pelos seus filhos ou por precisarem de lutar pela sobrevivência, não foram protestar ao lado dos seus concidadãos. Acredito que a maioria estava com aqueles manifestantes (os pacíficos e os que apanharam gás lacrimógénio em cima,novos e idosos, por todo e qualquer pretexto) . Assim como a maioria dos portugueses deve estar, especialmente agora, ao ver que levam Portugal pelo mesmo caminho e más opções de combate à Crise. Não tarda todos os portugueses e a maioria dos cidadãos que estão a ser expoliados e assaltados, Europa fora, dirão que são "Todos Gregos"! Mesmo que os tenham tentado convencer do contrário...Espero que o acordar para esta realidade não seja demasiadamente tardio.

(Tentarei olhar o que posso com humor, mas só vislumbro tragédias...gregas. )

"Alergia" (15-2-3012, in blog "Alegrias e Alergias")

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Postal do Dia S. Valentim... ;)



("Anti-Valentine's Day- Lovebirds", por "pbrain8", 2007)

Andava à cata de poemas ou algo que marcasse mais uma efeméride, neste caso a do comercial Dia de S. Valentim que agora começa, quando deparei com este video!...

Eu nem sabia que havia postais Anti- S .Valentim--- :))

Ora vejam...Boa noite!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Anti-AO: e a bola de neve cresce e cresce! ;)

(cães "bola-de-neve"- escolhi a imagem porque a achei digna de divulgação! :)))

A "Bola de neve" anti-AO continua a rolar! :))
Como já o desejava neste Post AQUI, uns e outros , nos vários pontos de Portugal e do mundo da CPLP, vão saindo da casca para criticar a viva voz o rocambolesco "Novo" Acordo Ortográfico '90.

Primeiro, nos anos mais recentes, restavam vozes isoladas, destacando-se a luta legislativa e corajosa de João Pedro Graça e da sua ILC contra o AO. Havia petições a correr online, olimpicamente ignoradas pelos governantes (incluindo deputados). Havia a resistência do jornal Público e de outras publicações, não adoptando a nova grafia, que lembremos, ainda não é lei de facto, não tendo sido o AO, lembremos também, assinado por todos os países da CPLP. Mas o resto definhava: numa estranha metáfora do que se passa a nível de quase toda a (ausência de) resistência geral no país, as pessoas lá se iam conformando, encolhendo os ombros, "ai enfim, ELES é que mandam... que é que havemos de fazer...?". Mais revoltante era a forma como tantos professores, especialmente de Português, já se submetiam e até tentavam convencer os outros da bondade do AO, com comparações que nada têm de semelhante com o "ph" de "Pharmacia" abolido pelo acordo de 1947! Eu sei que a grande pressão que sofremos com a ameaça da aplicação do AO em exames estava pendente, mas foi incrível e vergonhosa a forma subserviente como a chamada Associação de Professores de Português, aliás dirigida por alguém que não cursou Poetuguês na Faculdade, se curvou perante o AO, quase desde o início da polémica. E quando falo na ausência de acção de muitos professores de Português, refiro-me ao não partirem deles, tantas vezes, os protestos escritos e abaixo-assinados. Deveria ter surgido uma recusa conjunta em aplicar o AO, no meio de tanta indefinição ( tanto da situação como sobretudo das incongruências linguísticas geradas pelo novo AO)...

Após a pedrada no charco da medida rebelde de Vasco Graça Moura (LER AQUI)no Centro Cultural de Belém a que passou a presidir (aqui também noticiado), a bola de neve recomeçou a rolar: seguiu-se a Faculdade de Letras de Lisboa a retirar também o conversor ortográfico dos seus computadores. Mais tarde um jornal angolano e outro em Macau vieram posicionar-se ostensivamente contra o AO. *

Há dias a própria Academia de Ciências (AC)se pronunciou(não encontro agora a reportagem da tv). Academia essa cujo dirigente (?), o português Malaca Casteleiro foi, juntamente com o já falecido linguista brasileiro Houaiss, o principal criador deste atamancado Acordo, sendo que a versão original de 1990, depois corrigida face às maiores críticas, incluia aquela ideia peregrina de acabar com os acentos nas palavras exdrúxulas (lembram-se?! Pois. O certo é que o estrago estava feito... ainda hoje muita boa gente pensa que o AO serve para "acabar com os acentos-- leia-se TODOS!-- das palavras).

O que disse agora a AC, pela voz de outro seu membro? Que a imposição do AO feita na resolução da Assembleia e pelo Governo socretino não deveria ter ido para a frente, pois os governantes nem sequer consultaram a AC sobre a urgência de generalizar a aplicação da AO. Que a própria AC se admirara com tanta pressa dessa imposição pela via política....(!!!) Ou seja, chego à conclusão que o nosso azar nacional foi o senhor M. Casteleiro ter andado tão entusiasmado a visitar o Brasil, talvez ourado pelos encantos tropical, nos idos anos 90, trazendo em troca, no bolso, o famigerado AO! ...:P

Agora temos um novo paladino, desta vez na área das leis, o que nos deixa mais esperançosos, pois são os juristas que têm uma substancial parte do poder em Portugal. Noticia de hoje, no Público:




Diz que a nova Ortografia fere a Constituição da República e que "uma língua não se muda por decreto.". Apresentou, por isso, uma queixa na Provedoria de Justiça.

O novo paladino chama-se Ivo Miguel Barroso e é professor de Direito na FDUL.

Continuemos portanto a fazer o que está ao nosso alcance e esperemos que mais organismos e individualidades de destaque tomem posição contra o absurdo AO- Ver a sintese da situação nesta notícia AQUI-- (pois infelizmente é o que ajuda um protesto como este a ter maior impacto, num país tão mal informado e ainda tão conformado).

E que a bola de neve seja como aqueles dois cães a escoltar alegremente o AO para fora dos textos do Português! ;)

"Alergia" (13-2-2012, in blog "Alegrias e Alergias").
* Obrigada, Ana C.!

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ADENDAS, em 14-2-2012 (para quem ainda não estiver convencido sobre a argumentação Anti-AO). Os destaques a negro são meus:

- Retirado da excelente crónica de Nuno Pacheco, do Público de ontem, dia 13:

Excertos do longo editorial do "Jornal de Angola"-- "Sabemos que somos falantes de ums Língua que tem o Latim como matriz. Mas mesmo na origem existiu a via erudita e a via popular.Do "português tabeliónico" aos nossos dias, milhões de seres humanos moldaram a língua em África, na Ásia, nas Américas. Intelectuais de todas as épocas cuidaram dela com o mesmo desvelo que se tratam as preciosidades."

"Ninguém mais do que os jornalistas gostava que a Língua Portuguesa não tivesse acentos ou consoantes mudas. O nosso trabalho ficava muito facilitado se pudéssemos construir a mensagem informativa com base no português falado ou pronunciado. Mas se alguma vez isso acontecer, estamos a destruir essa preciosidade que herdámos inteira e sem mácula."

"O português falado em Angola tem características específicas e varia de província para província. Tem uma beleza única e uma riqueza inestimável para os angolanos mas também para todos os falantes. Tal como o português que é falado no Alentejo, em Salvador da Baía ou em Inhambane tem características únicas. Todos devemos preservar essas diferenças e dá-las a conhecer no espaço da CPLP. A escrita é "contaminada" pela linguagem coloquial, mas as regras gramaticais não. Se o étimo latino impõe uma grafia, não é aceitável que através de um qualquer acordo ela seja simplesmente ignorada. Nada o justifica. Se queremos que o Português seja uma língua de trabalho da ONU, devemos, antes do mais, respeitar a sua matriz e não pô-la a reboque do difícil comércio das palavras."

- De Paulo Franchetti, critico literário, escritor e professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Brasil), em entrevista ao blogue "Tantas páginas"-- "O acordo ortográfico é um aleijão. Linguisticamente mal feito, politicamente mal pensado, socialmente mal justificado e finalmente mal implementado. Foi conduzido, aqui no Brasil, de modo palaciano: a universidade não foi consultada, nem teve participação nos debates (se é que houve debates além dos talvez dcorram durante o chá da tarde na Academia Brasileira de Letras)"; e " A ortografia brasileira não será igual à portuguesa. Nem mesmo , agora, a ortografia em cada um dos países será unificada, pois a possibilidade de de grafias duplas permite inclusive a criação de híbridos"; E ainda "Nem vale a pena referir mais uma vez o custo social de tal negócio: treinamento de docentes, obsolescência súbita do material didáctico adquirido pelas famílias, adequação dos programas de computador, cursos necessários para aprender as abstrusas regras do hífen e outras miuçalhas."

Também no Diário de Notícias de 13 de Fevereiro (em papel), foi publicado um artigo de opinião conjunto dos professores da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, José de Faria Costa e Francisco Ferreira de Almeida, que apresenta a argumentação jurídica contra a adopção do novo AO( talvez demasiado jurídico para os "leigos", com termos rebuscados da jurisprudência como "postergar normas cosntantes","se justifica,quanto antes sobrestar na decisão". Infelizmente não há versão online, mas retiro apenas umas passagens pequenas: "A língua deve ser olhada e valorada como um território de tendencial espaço livre de direito"; e "Com o Acordo Ortográfico, Portugal , acometido de um juridiciante voluntarismo excessivo, tristemente capitulou perante um patente abastardamento da língua portuguesa, coonestando, à guisa de autoflagelação, uma arremetida contra importante vertente do seu riquíssimo -- velho, de quase nove séculos -- património histórico e cultural."

"Autoflagelação" é um termo adequado: até parece que devemos ter vergonha de a nossa ortografia ser mais "antiquada" ou "menos moderna", expressão tão acarinhada políticos como Sócrates, um dos principais responsáveis por esta apressada implementação do AO na Administração , nos escritos, nas escolas.... Mais uma trapalhada socretina que urge desfazer. Ou vão, como em tantas outras políticas erradas desse senhor, dar o triste facto como consumado e não mexer? Se é para poupar dinheiro, mais vale não estar agora a inventar uma nova estrutura de Administração local, dando cabo das Comissões de Coordenação (CCDRs) e Freguesias, armados em "aprendizes de feiticeiro" de realidades que não dominam (para "cortar gorduras"... inventaram MAIS UM INSTITUTO Público, o do "Território"?! Pois...). Parar o Disparate Ortográfico sairá bem mais barato ao país que isso. E sobretudo será um gesto de identidade Cultural para toda a CPLP. Senhor Secretário de Estado , escritor e editor, J. Viegas: onde pára? Senhor MEC Crato, inimigo de "eduquês" e de utras formas de estupidez, pelo que proclamava: não se pronuncia? Ah, certo... quem tem de decidir é a Troika, a troika esqueceu-se de falar nisto, não foi?.

"Alergia" (14-2-2012)




















sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O padeiro da minha rua e as empresas públicas de transportes

Todos falam em crise. E da austeridade que devemos ter, dos sacrifícios que devemos fazer e blablá. Muitos (mas nem todos) sofrem a crise. O comércio de produtos que não os de luxo é um dos que mais está a sofrer com a crise , em Portugal.
O padeiro da minha rua , nos últimos anos, tem visto o preço da farinha subir em flecha. O padeiro da minha rua há vários anos que não aumenta o preço do pão, para manter a clientela, ao não reverter o preço da farinha no preço do pão.
O padeiro da minha rua, viu agora a percentagem do IVA dos bens essenciais aumentar muito. O padeiro da minha rua, mesmo assim, procura não reflectir ese prejuizo no preço final da sua produção. Não quer perder clientela, que sabe estar sujeita também à crise e às dificuldades.
O padeiro da minha rua , desde que a crise se começou a sentir no País, tem visto  diminuir a afluência de clientes à hora do pequeno-almoço, à hora do lanche e até à hora do cafezinho após o almoço. Em compensação, o padeiro da minha rua fornece artigos para almoços ligeiros, que leva os clientes a tomarem algumas refeições na padaria.
O padeiro da minha rua conhece boa parte dos clientes pelo nome, acolhe-os com um sorriso e simpatia, adivinha-lhes os gostos e por vezes faz sugestão de novos produtos.
O padeiro da minha rua poderia ter diminuido drasticamente a produção de pão e outros artigos, a pretexto da quebra de vendas e da Crise. Em vez disso, o padeiro da minha rua procura inventar novos produtos (novas variedades de pão, de bolos, pastéis, sandes...) que agradem aos clientes e correspondam às suas necessidades.Reaproveita pão que sobra mais seco e faz torradas especiais que vende de manhã em pequenos almoços muito mais baratos para que os clientes mais carenciados, tantas vezes idosos e de magras reformas, possam continuar a dar o seu "arejo" de café e de convívio com vizinhos. .
Na padaria da minha rua, todos os funcionários são extremamente simpáticos e rápidos a servir, fazendo valer bem o lema de que um cliente satisfeito é um cliente que regressa e que  "o cliente tem sempre razão". Se alguém se queixa de algo com fundamento, é o primeiro a reconhecer que o produto não agradou e a tentar compensar o deslize.
O padeiro da minha rua consegue manter os funcionários e quando tem dificuldade em arranjar padeiros para os fornos ele mesmo mete mãos à obra, querendo experimentar o fabrico de novos produtos para testar a sua qualidade e dificuldade. Uns são patrões, outros são funcionários, mas o padeiro da minha rua consegue criar o espírito de equipa necessário para que todos sintam incentivo em manter a padaria em funcionamento, como se a crise pudesse passar ao largo. Quando a sala se enche, qualquer uma das funcionárias que servem às mesas ficam visivelmente satisfeitas pela afluência, dizendo "tomara todos os dias!". Os clientes, satisfeitos, quase todos pessoas remediadas, tentam dar-lhes umas gorjetas de vez em quando e até não se importam de partilhar a mesa quando a sala está cheia e vem uma senhora comos netos  e que se arriscaria a esperar algum tempo!
Que relação tem o padeiro da minha rua, com as empresas de transportes públicos do título?
Pois bem, para além de também sofrer a crise, dá para perceber que o padeiro da minha a rua sabe ver que a maneira de ultrapassar a dita crise não é  simplesmente cortar ou reduzir, mas enfrentar o problema com criatividade  e trabalho! Poderia limitar-se a aumentar os preços, reduzir todos os produtos apenas às carcaças e cafés, mas tem a inteligência e o talento de (VERDADEIRO) bom gestor que, em vez de se fechar num gabinete a produzir gráficos e estudos, mete literalmente a "mão na massa" para ultrapassar as dificuldades. Poderia limitar os seus horário de atendimento, podendo despedir pessoal e ter menos encargos, porém sabe que quer manter o interesse no que vende, marcar diferença e não espantar a clientela para outras paragens que apresentem maior e mais variada oferta.
Pronto, já devem estar a entender o paralelismo. Tudo o que o padeiro da minha rua  tem feito para superar a crise (NOTA: mesmo nem sempre tendo pastéis de nata à venda!) é o oposto do que os toscos (não merecem outro epíteto não acham?) dos administradores das empresas de transportes públicos têm feito, com a  tosca desculpa da crise e da subida de preço dos combustíveis. Tanto CP (Comboios portugueses), como Carris, STCP, Metro de Lisboa e do Porto, têm vindo a obedecer aos conselhos "liquidatários" de uns outros toscos, de uns ditos "grupos de trabalho" (certamente pagos a peso de ouro...). Assim, em vez de procurarem diversificar a oferta e atrair novos utentes, tudo têm feito para os afastar e concluirem que, gastar por gastar, mais vale viajar de automóvel e sair à porta do trabalho...
A CP encerra linhas, acaba com muitos horários de comboios, encerra estações (algumas belíssimas!) e apeadeiros, destrói linhas históricas e turísticas (muitas já do tempo do rei D. Pedro V, um  homem de visão, que as inaugurou), vende  à sucata carris e comboios, só não conseguiu pôr a patacos e exportar comboios antigos( para museus lá fora), autênticas relíquias históricas, porque, ironicamente, uma associação internacional de trabalhadores ferroviários lembrou que fazer isso  sem avisar o Estado era proibido na U.E.!
 Muitas terras de interior ficaram sem comboios, para mais em locais onde nem alternativa rodoviária existe. Há poucas  ou nenhumas carreiras, em horários absurdos, quanto muito. Lembremos que a Rodoviária Nacional foi extinta há poucos anos, deixando grande vazio de concorrência. Depois diz o nosso PR para regressarmos ao meio rural? No comboio " Intercidades", ainda há pouco, acabou o serviço de bar (algo de básico para viagens de longo curso!), tudo porque a empresa concessionária acabou seu contrato e mais ninguém parecia interessado, devido às regras apertadas da ASAE...E não sairia mais económico à CP ter o seu próprio serviço de bar(como devia ter em tempos...) , já que é um direito  mínimo dos  seus utentes? Esta mania de fazer contratos externos por tudo e por nada não tem levado muitas empresas a melhor serviço ou sequer a poupar mais. E aquela de privatizar o que dá lucro, caso da parte que foi desmembrada da CP e transformada em outra empresa, a dos transportes de mercadorias
Nas cidades, os transportes públicos estão a seguir o mesmo caminho: diminuem os horários,  os autocarros alteram os percursos de forma estúpida que não agradam aos interesses dos utentes, queriam até acabar com transportes após a meia-noite, quando há muita gente que regressa do trabalho ou dos grandes Centros depois dessa hora. Pode parecer uma medida ao estilo da  fada madrinha da Gata Borralheira, para fazer os meninos e meninas regressarem cedinho a casa para  não perderem o sapatinho e depois "moirarem" cedo no trabalho do dia seguinte. Mas seria também uma medida para fechar os centros aos cidadãos que vivem nos subúrbios, mais uma maneira espúria de  afastar  esses Borralheiros dos centros de decisão e também dos centros de... protesto futuro.
Queixam-se que têm prejuízo, no entanto ,quando apresentam as contas, vemos é que têm... escasso lucro, o que é diferente. E vemos também que o que faz gastar mais a essas empresas, o que realmente lhes introduz prejuizo, é a multiplicação de administradores bem pagos (no lugar da meia-dúzia que bastaria), com frota automóvel de luxo e outras mordomias--- e não os mecânicos, guarda-freios, motoristas que despedem. sobrecarregando horários de outros. Nem tão pouco é a menor afluência de utentes em certos horários (que se compensam com as horas de ponta) e certas linhas, mas a má gestão de recursos, a falta de criatividade, a cada vez mais diminuta  oferta que afasta tanto utente.
Agora sobem os preços dos bilhetes em flecha, acabam ou reduzem de forma violenta os passes sociais (ASSUNTO Já debatido AQUI), tiram todo e qualquer incentivo a viajar em transportes públicos, vão perder os utentes idosos e os estudantes, vão contribuir para o esvaziamento e vida das ruas e até do comércio que resta, devido a essas subidas proibitivas...com se alguma vez os preços dos passes possam cobrir as subidas constantes dos combustíveis.
 Em suma, riscam do seu vocabulário a expressão "TRANSPORTE PÚBLICO". esquecendo que este não é feito para dar lucro, como  o negócio particular mas tantas vezes mais "público" do padeiro da minha rua, mas para dar alternativas sensatas para a deslocação dos cidadãos que pagam impostos, compensando também aqueles que não os podem pagar. Os transportes, a par da Saúde e da Educação básica, é um dos serviços de Bem comum que deveriam ser conservados e incentivados , a bem da mobilidade e da tão adorada Economia.
 Se os cidadãos tiverem melhores e mais eficientes transportes, as localidades, grandes ou pequenas, manter-se-ão vivas e a economia não será uma palavra estática. Mass esses génios, esses "cérebros" não conseguem ter essa visão. Ou então até vêem mas faz parte do plano geral de levar as empresas à desgraça para depois serem recapitalizadas publicamente e "salvas" por privatizações de embuste...Porém essa é a perspectiva mais pessimista das intenções dessas sumidades dos grupos de "trabalho". Por mim dou-lhes o beneficio da dúvida de agirem assim por mera estupidez...
E depois devem querer o milagre do aumento de afluência quando se limitam a, para compensar tanto CORTE, fazer belos cartazes e anúncios de rádio a dizer "Viaje de comboio. Poupa tempo ...e bláblá"...! Poderiam bem poupar em publicidade, se , como o padeiro da minha rua, tivessem amor e criatividade no negócio que gerem, não buscando o prejuízo, mas lembrando-se que estão a prestar um serviço e que o cliente, rico, pobre ou remediado, deve ser prioritário.
Bem... e se querem saber onde fica a Padaria (bem real!) da minha rua--- pois  não digo.
 É um segredo bom que toda a  vizinhança prefere guardar! :))
Margarida Alegria (10-2-2012, in blog "Alegrias e Alergias")