quinta-feira, 4 de abril de 2013

Sugestões: Retrospectiva de cinema documental- Kim Longinotto "Histórias no Feminino"

(imagem de "Pink Saris", 2010, de Kim  Longinotto)
Apenas tempo para alertar para um ciclo de cinema (Documentário) que anda em tournée por Portugal desde a semana passada.
No Porto decorreu entre os dias 28 e 30 de Março, no cinema Passos Manuel, promovida pela Associação "Zero em Comportamento". Vi quase todos e RECOMENDO VIVAMENTE.
Trata-se de um total de sete filmes da britânica Kim Longinotto, uma das mais marcantes e premiadas  documentaristas da actualidade, que tem percorrido parte do mundo a retratar histórias pungentes e muito humanas de pessoas que, nos seus  países (Irão, Quénia, Índia, Japão, Reino Unido...), lutam por uma maior dignidade de vida e pelos direitos dos mais desprotegidos, nomeadamente de mulheres e crianças. Daí esta retrospectiva ter sido baptizada de "Histórias no Feminino", pois a maioria dos protagonistas destas histórias reais são mulheres de "fibra" dispostas a mudar algo em seu redor (embora alguns dos  filmes "naveguem" por outros temas, como poderão ver).
Tradicionalmente o cinema de Kim Longinotto é associado ao chamado "Cinema Directo" ou Cinema vérité,  caracterizado por não assentar em grandes efeitos estilísticos nem ser construído com base num guião prévio. Pode parecer árido e simplista e retrair quem já não aprecia tanto assim os documentários, preferindo enredos complicados,lágrimas e acção... da ficção.
Mas desenganem-se. Como a realizadora constata e muitos de nós também sabemos,  quase sempre a realidade ultrapassa e supera a ficção. O aparente estilo "neutro"  de Kim L. é compensado com a forma sensível e próxima como filma aquelas pessoas e os seus dramas, conseguindo-nos transportar para os espaços onde as situações decorrem, dentro ou fora de portas, e tornando-nos testemunhas das suas "batalhas". A própria autora explica que não quer , com estes filmes, dizer  aos espectadores COMO e o QUE  devem pensar sobre os filmes que vêem, mas que "estejam" presentes e VIVAM aquelas emoções, construindo depois as suas próprias reflexões.
Fui a uma sessão, só por curiosidade, mas acabei por ir a (quase) todas as outras. Os filmes envolvem-nos e torcemos, como em qualquer filme, pelas heroínas e heróis daqueles dramas dos dias de hoje. Querem lágrimas, acção, emoções várias, expressividade humana, diálogos mais perfeitos do que os de ficção, personagens inesquecíveis? Gostam de  ver  filmes "de tribunal", filmes com música e dança, filmes  de abraços, discussões ou ternura, filmes policiais até? Pois nestes documentários vão tendo quase tudo isto. Arrumem de vez o preconceito quanto ao que podem pensar que vai ser "apenas" um documentário, dos ilustrativos e mais rotineiros, habituados a ter desses "aos quilos" nas TVs por cabo ou em reportagens de noticiários. 
Temas  mais duros como o divórcio litigioso e quase proibido, a violência nos bairros citadinos,  a opressão das mulheres fechadas em casa, o abandono de crianças, a excisão genital feminina, mas também momentos de carinho, de risos, de declarações de amor , de reconciliação e perdão, de humor hilariante, até. Em suma: a Vida  diante dos nossos olhos, mesmo que por vezes em situações extremas, contrabalançadas com a  doce "normalidade" e os suaves sonhos comuns a todos os humanos, em qualquer parte do Mundo. Aquilo passou-se, aquilo passa-se, ainda, nos dias de hoje, algures num recanto deste planeta Terra e há um enredo bem real de  grandes ou pequenas vitórias pessoais e/ou socio-culturais ali em jogo!
 Acreditem: dei cada minuto por bem empregue e saí daquela sala de cinema mais "rica" e forte por dentro, como todos os que tiveram a sorte de ver pelo menos um daqueles filmes.
 Em Lisboa começará HOJE, dia 4 de abril,  às 21.30h, no CINEMA-CITY Alvalade, decorrendo a retrospectiva até Domingo, dia 7 de Abril, inclusivé.
Consultar  AQUI (link para o Cinema ) os horários e preços, mais económicos que os de outros filmes (dos dias 5 a 7 serão projectados dos filmes por dia, um às 19h e outro às 21.30).
Em Lisboa  após a maioria dos filmes, decorrerão debates com o público e especialistas convidados em várias áreas (Jurídica, social, cinematográfica). No Porto tivemos a sorte de as conversas sobre os filmes terem a presença central  e simpatiquíssima da própria Kim Longinotto, que conhece cada "frame" e cada personagem dos seus filmes como as palmas da mãos. (ora tomem lá, lisboetas!) ;)
O primeiro filme é o que está aqui retratado, "Pink Saris" , de 2010, e foi o único que "perdi".
Nele a realizadora (como habitual apenas com o apoio de um técnico de som e alguém para traduzir) acompanha  Sampat Pal, uma activista dos direitos das mulheres , líder do grupo Gulabi Gang, que percorre  a região de Uttar Pradesh, no norte da Índia, em apoio às mulheres vulneráveis e maltratadas  e  na mediação dos seus dramas familiares .

Depois da etapa Lisboeta, os filmes  farão um périplo pelo país, estando para já  garantidas as passagens por Joane, por Viseu, Barcelos e Ponta Delgada.
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Amanhã publicarei aqui  as minhas impressões mais detalhadas  --as tais reflexões que Kim L. espera que os fruidores da sua obra venham a construir -- sobre os filmes que vi e que dificilmente esquecerei. Estes filmes são a prova como as Artes e as causas sociais estão longe de estar separadas, podendo interligar-se e entreajudar-se de forma subtil e contribuir para um Mundo melhor e mais justo.
Margarida Alegria (4-4-2013, in blog "Alegrias e Alergias")

ADENDA( dia 7-5-2013):Ainda pensava eu que tinha anunciado as sessões de Lisboa um tanto em cima da hora. Pois bem, alguns dos filmes têm andado por aí, como foi o caso ontem ,6-5-2013,  de "The Day I Will Never Forget". Passou em Viana do Castelo, às 14.30h (ontem). Quando foi anunciado no jornal?... ONTEM... :(
(Está para breve a publicação do texto que prometi. Os maiores dos contratempos... que colidem com o não querer um texto "às três pancadas"...).

5 comentários:

  1. Quase morri de saudades tuas.

    Tenho andado mais ocupada, mas sempre arranjo tempo para pensar na minha amiga Alegria.

    Que tudo esteja lindamente...

    Beijinhos e bom cinema.

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    1. Olá! :)
      Cheia de saudades também!
      Nem imaginas as peripécias por que tenho passado,fora e dentro da net, até mesmo na minha bloguice...
      Já tinha postado algumas coisinhas. Mas tens razão, foi um lapso de tempo demasiado longo e que me arreliou bastante e fez crescer a "despensa" de posts pendurados.
      Amanhã espero conseguir escrever-te para contar as novidades, que até a passagem pelos mails tem sido quase impossível.
      Portanto, nem tudo está lindamente. Como já disseste, não há nada que não me aconteça, porém já estou habituada... ;)
      Afinal ontem, com a "emoção" da decisão do TC e de ver os "boys" danados, com cara de enterro, não cheguei a publicar o texto sobre os filmes, mas optei por um de "homenagem" ao Relvas , o "Equivalente Impulsionador".
      Vou agora ao texto, a ver se ainda o consigo publicar hoje (as minhas manias perfeccionistas...).
      Até logo.
      Bjooooooossssssssss!

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  2. E eu quase morro de imbeija por num conhecer a realizadora nem ter visto nenhum filme... fustigo-me, muito! :)

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    1. Olá, Maria João!
      Bem-vinda a comentar! :)
      Posso parecer muito propagand´sitica , aqui, sobre os filmes, mas gostei mesmo deles e mostram-nos mundos que sabemos que existem mas de que só nos apercebemos completamente com aquelas situações e pessoas heróicas a passar diante dos nossos olhos.
      E , quanto à realizadora, eu desconhecia que ela iria estar presente, que viria cá, por isso foi uma agradável surpresa "extra".
      Isto porque eu jáq ouvira falar de alguns destes filmes e temas, mas desconhecia a obra da autora. Fui mesmo ver na desportiva, depois da inesperada mudança de planos para fim-de-semana... Du8pla surpresa.
      E não te fustigues: os filmes ainda vão andar cá pelo Norte (e não só), esperemos que com divulgação atempada. Ainda os poderás ver.
      Beijos

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    2. Ups!
      "propagandística".
      "dupla surpresa"
      eheheh...:)
      Quando aprecio as coisas, gosto de as divulgar e sou por vezes um bocado enfática a falar delas, já sei...
      Mas se já há tanta divulgação de coisas más e desagradáveis, penso que as boas merecem tanta ou mais promoção!

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